voltarás, eu sei. porque essas paredes estão vazias demais, brancas demais, mudas demais e as fotografias espalhadas sobre a cama não minimizam a soilidão engasgada no meu peito,nem mesmo reconhecem-me como o homem que as vê e que nelas figura,ao teu lado,acolhido por paisagens outrora tenras, mas que agora secretam distância e indiferença,erguendo progressivamente um refúgio árido e perturbador.porque voltarás, eu sei, esperanço girassóis e estrelas do mar.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
domingo, 2 de novembro de 2008
DO AMOR III
amor talvez seja vestígio. rua estreita que vai dar em lugar nenhum. quem sabe, amor seja destino. gramática imprecisa a inventar-nos memória. amor e mais nada? amor, acima de tudo? ontem, fomos sussuro. hoje, já não recordo o próximo grito. finda a noite e cá estou, esvaziando as pálpebras daquilo que não compreendo, matéria feita de sonhos. descobre-se o dia e lá estaremos, atados àquilo que fica, esta permanência muda a nos assombrar.
domingo, 24 de agosto de 2008
DA AMARGURA II
mantei-vos firmes
e tudo dará certo
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delimitando com precisão
delimitando com precisão
a dor estanca
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agarrai-vos portanto ao que foi prometido observando o tempo escasso dessa vida poente passar pelos ossos da velhice ruidosamente escrita em meio ao abandono dos vossos filhos que agora só aparecem no dia de natal trazendo sorrisos embrulhados para presente tão estéreis quanto a vida que os pariu porque somos todos um estúpido amontoado de fé medo arrogância mentiras desculpas rancores tropeços e desilusões
quarta-feira, 30 de julho de 2008
DA AMARGURA I
estás aqui outra vez. procuras em vão por quem não volta. deixou tudo pra trás, sem um adeus, um abraço, um olhar. tens fotos, muitas fotos; e nelas há traços, vê? o rosto, as mãos, os cabelos abaixo dos ombros. aquela tarde, pouco antes do céu estrelar, só nós dois dentro do mundo, pequenino mundo feito de nós. tens vídeos, uma dúzia deles; e lá estão as vozes, os gestos, tantos sorrisos, sorrisos que deveriam estar aqui. e não estão. por isso tanto amarguras? mas não é tolice crer num amor infindo?amor infindo... quem aposta numa felicidade que se sustenta, perde. perde, eu disse. quem apostaria no amor?amor, eu disse. quem vai apostar? por isso, abre a gaveta da escrivaninha e pega o caderno. escreve. finge. e descrê. porque a crença emburrece. e é tempo de sangrar.
sexta-feira, 2 de maio de 2008
DO AMOR II
há silêncio aqui. respiro o teu ar, ausente. tateio o teu corpo, fantasma. sorrio às memórias, baldias. soletro o meu nome, fracasso. o corpo rígido, escorado na parede próxima à janela, ritualiza um vai e vem sem sentido. sou um grito oco nas entranhas dessa paisagem. reduzido ao que sobrou, o amor descobre seu preço.
segunda-feira, 21 de abril de 2008
DO AMOR I
pálidas tardes. cataloga uma a uma, com a paciência caduca de quem nada mais consegue fazer. as que adoeceram em silêncio, chama-as solidão. às que entristeceram, destino. de um instante para outro, entre pontos perdidos em meio ao rigor do poente, sabe menos acerca do homem que é. veste roupas feitas para durar e que ficarão ali, mesmo depois da sua morte, a testemunhar quem fora, guardando de si o cheiro e um amontoado de memórias, sem que haja alguém para sentir saudades.
domingo, 13 de abril de 2008
DA ESPERANÇA I
esperança. você convive com sorrisos ao seu redor. pessoas que mal sabem onde repousar seus ossos, sorriem, carregando consigo inserções dum amor barato, doente e contido. medem o que chamam verdade pela moral que lhes escorre boca afora, pegajosa, límpida, avessa ao que escapa aos seus olhos grávidos de rancor. aglomeram-se em suas vidas mesquinhas, multidão desejosa de nada. medrosos, respiram somente o ar que cabe em suas narinas. sonham com a redenção. esperançam.
sábado, 12 de abril de 2008
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