sábado, 21 de novembro de 2009

da indiferença I

não importam teus sorrisos semanais ou minhas desculpas diárias porque estamos trancados por dentro e há muito esquecemos dos sonhos a eternidade. seguimos em frente como se nada mais importasse e que fingir estar tudo vai bem fosse um horizonte de novos amanhãs. menos insignificantes e medrosos. ou quem sabe, felizes.

domingo, 2 de agosto de 2009

da mentira I

mentes. ao calar tuas inseguranças. ao supor meus assombros. ao deitar comigo sem que teus poros abram-se ao que respiro. mentes, eu sei. sobrevida? a boa e infalível mediocridade burguesa? judaico-cristã até os ossos. vejo-me diante de um espelho, dirás. refletimo-nos, digo. distorcidos em nossa solidão mesquinha. reptílica. temos casca. frios e abortados de todo sentir. esmolarei sonhos de quem não sabe sonhar. assim, só a queda importará. [e eu te enraizei voo]

quarta-feira, 15 de julho de 2009

da morte I

por que chegas, se o que dizes ao partir é pouco? de ti nada quero porque não calas meus temores. há pouco perdi um amigo. houve lágrimas. atardecia e o sol relutava em fazer-se poente, como se soubesse que sentirás falta de estrelas cadentes. veja, fazia tempos que os irmãos não se abraçavam. você diria que a tristeza não une. apenas recoloca pedaços, cuidadosamente. já perto do adeus, um vazio circundado pela necessidade de crer em algo além da carne foi-nos empurrado goela abaixo. amargo. improvável. houve desespero. amanhecerá outra vez. aos que ficam.

domingo, 28 de junho de 2009

da amargura V

agrupar as horas. categorizá-las racionalmente até que o próximo instante faça sentido. parar frente às memórias como se fosse possível arrancar do tempo o avesso da solidão. e em silêncio, olhos vagos, crer nisso a que chamamos amor.

terça-feira, 2 de junho de 2009

da felicidade IV

tropeçamos, sempre. a queda deveria bastar.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

da felicidade III

e se fosse amor, mesmo assim acabaria. porque somos ar antes de chão. porque pontuamos virtudes, e não desatinos. míseros, excede-nos o rito quando seríamos carne. atados ao verbo, temos a felicidade em nossas mãos.

segunda-feira, 16 de março de 2009

da felicidade II

a normalidade preenche o vazio, escondendo-nos daquilo que invariavelmente somos – foi o que ela disse. não existia mais juventude em nossos olhos, demorei a perceber. ao amanhecer, assombrávamos um ao outro trocando memórias de lugar. há espelhos no rosto dos que lá fora sorriem. distantes, buscamos luz na cegueira do que chamamos amor.

quarta-feira, 4 de março de 2009

da amargura IV

quando só o que te pertence
é a incorreção da madrugada
a se arrastar ruas afora ...
.
um mero sinal de ternura
e já acreditas que o amanhecer
adormecerá a dor
o desespero
a solidão.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

do silêncio I

[madrugada] calculo as horas e mesmo assim o tempo esquece seu único fim – deixar-nos passar. estanco a pele aflorada. cuidadosamente, cicatrizo a lucidez. meu sofrer é uma recusa irreparável.

à carol b.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

da felicidade I

a permanência da solidão. no fim, eis o que resta. amor? é desespero. felicidade? passa, sempre passa. mas a dor, a dor é mais profunda e sabe como enraizar os dedos em nossos ossos. mais profundo que a dor, o silêncio. faz-nos surdos, cicatrizes somos. o adeus, é do silêncio promessa atirada ao ar. e só. a permanência da solidão. enfim, eis o que me resta.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

da esperança III

por onde ficamos nesse tempo estreito perdido entre aquilo que somos e o que poderíamos ser? vejo nossa casa daqui do mundo que invento ela, tem as janelas num leve tom de azul como um dia sorrimos eu molho a grama do jardim tu estás a brincar com nosso filho e mais tarde sentaremos à mesa, os três. meu rosto envelhecerá primeiro que o teu, vê? não consegui te convencer por isso não temos um beagle, disso não gosto. as madrugadas minhas continuam mergulhadas em livros discos e poesia, reclamas. ainda contamos estrelas cadentes mas há meses não aparece um arco-íris. será que deus esqueceu de sonhar? amanhece, o sol no meu rosto avisa que a manhã será azulada mas eu queria mesmo é que tudo fosse real e eu não tivesse desistido de sonhar.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

da amargura III

não estavas. aliás, foi melhor não estares. por acaso lembrarias dos cacos de sonhos que um dia eu soube colar? não. há pressa demais na palma das tuas mãos, eis o destino que escolheste. é claro, eu também estou surpreso, jurei não voltar. mas vida gotejava diante dos meus olhos num fluxo desproporcional a precocidade da demência que me furta momentos de paz. estou inquieto. por isso, aqui. estou só. quisera você, conosco.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

do amor V

é tempo de recolher o que foi deixado para trás acreditando desesperadamente que a vida não cobrará o preço devido por termos sido absurdamente felizes e alimentados pela fome de tudo.

domingo, 4 de janeiro de 2009

do amor IV

acabamos sós. nenhum amor será suficiente pra nos livrar disso ou mesmo aliviar o peso o vazio a angústia que chega com o fim. acabaremos todos. acovardados. conformados. esperançosos. corpos espalhados por um deserto inominável, lugar onde não faz frio nem calor. chegaremos sem saber como e sem deixar pistas. sozinhos. em algum canto no qual ninguém nos achará. sós. receio que seja isso. nada além disso.